quinta-feira, 22 de novembro de 2012

E ai Comeu?


 

 

 

 

 



Honório (Marcos Palmeira), Fonsinho (Emilio Orciollo Netto) e Fernando (Bruno Mazzeo) são três homens á volta com o novo papel da mulher na sociedade.


O machista (ou seria amante a moda antiga?) Honório vive uma crise no relacionamento com Leila (Dira Paes), o escritor Fonsinho prefere relacionamentos furtivos com prostitutas e mulheres casadas.  Entretanto, tanto desprendimento afetivo está lhe causando uma crise de inspiração.


 O arquiteto Fernando foi deixado pela mulher vitória (Tainá Muller) e vive a famosa fossa pós-separação, mas a jovem Gabi (Laura Neiva), inteligente e cheia de vigor lhe devolve a autoestima perdida colocando mais cor e jovialidade na vida desse homem.



Baseada na peça de sucesso de Marcelo Rubens Paiva, “E ai comeu?” transpõe para o cinema a famosa “conversa de bar”. O enredo é pautado nas situações cômicas que surgem no bar, dessa forma se sobressai as demais tramas.


O diretor Felipe Joffily investiu em planos curtos, ágeis e mais abertos ao mesmo tempo. Utilizando o corte rápido de planos de maneira que se possa desenhar um retrato das situações apresentadas para o espectador.


Os flashbacks que surgem espontaneamente oriundos das lembranças dos protagonistas colocam o público a par das vidas dos protagonistas até aquele momento.


A montagem paralela estabelecida no esquema “bar-casa-trabalho-putero” no caso de Fonsinho (Emilio Orciollo Netto) conferem um dinamismo e uma agilidade muito bem-vindos nesse caso.


Não podemos deixar de citar a direção espontânea de Felipe Joffily que trabalha as esquetes cômicas de maneira orgânica e crível. Joffily investe em closes priorizando seu trio protagonista, dando destaque aos atores nas suas lentes. Entretanto, o diretor peca ao inserir planos descritivos á exaustão, mas nada que prejudique a qualidade do filme como um todo e nem seu trabalho como diretor é apenas um detalhe que poderia ter sido corrigido.



 O melhor do filme é sem dúvida o roteiro.  Escrito a quatro mãos por Marcelo Rubens Paiva e Lusa Silvestre. Trabalhando com maestria na estrutura das esquetes cômicas. A construção de personagens bem definidos.  Os diálogos coloquiais diretos e certeiros, marca de Marcelo Rubens Paiva beiram o escatológico. Recheados de palavras de baixo-calão podem assustar os conservadores e falsos moralistas, porém é necessário observar as entrelinhas dos diálogos de Paiva e Silvestre e perceber que os diálogos e situações não têm qualquer cunho ou propósito de ofender e sim “homenagear” o sexo oposto.


A parceria de Lusa Silvestre com Marcelo Rubens Paiva confere ao roteiro maior embalsamento cinematográfico, enquanto Marcelo foi mestre na transposição da essência da sua obra teatral, especialmente no que diz respeito aos diálogos e personagens.


O elenco possuiu muitos destaques, a começar pelo trio protagonista que exibe excelente química cênica de modo que seria injusto apontar um ou outro, todos defendem bem os personagens de modo que Marcos Palmeira (Honório), Bruno Mazzeo (Fernando) e Emilio Orciollo Netto (Fonsinho) merecem aplausos por suas atuações.


Do elenco secundário Tainá Muller (Vitória) a ex- mulher indecisa de Fernando (Bruno Mazzeo) se destaca primeiramente devido ao vigor que empresta a personagem. Dira Paes (Leila) se destaca ao representar o retrato da mulher contemporânea.


Os grandes destaques do longa ficam por conta de Laura Neiva (Gabi) e Juliana Schalch (Alana) que humanizam suas personagens, lhes dando alma e não as deixando cair nos estereótipos de ninfeta e garota de programa respectivamente. É interessante também notar a evolução das duas atrizes. A de Laura do seu trabalho anterior no cinema no longa À deriva e a de Juliana de seus trabalhos anteriores na televisão.



Concluo dizendo que o longa cumpre sua proposta. A de ser uma comédia inteligente e reveladora sobre o universo masculino. Os atores acertaram em cheio em suas interpretações.


Aproveito para salientar que novas incursões de Marcelo Rubens Paiva no universo cinematográfico são sempre bem-vindas de modo que já espero pelo próximo filme com roteiro de sua autoria.  





sábado, 3 de novembro de 2012

Uma Jovem Tão Bela Como Eu


 

Ao preparar sua tese de doutorado com o tema “Mulheres Criminosas”, Stanislas Prévine (André Dussollier) se interessa particularmente pelo caso de Camille Bliss (Bernadette Lafont), uma jovem cantora de personalidade dúbia acusada de matar o amante. Prévine se encanta por camille (e por seu caso) que se empenha em provar sua inocência. Entretanto o envolvimento entre os dois transcende os limites do profissional, o que complica a situação do sociólogo.

 

Baseando-se no romance de Henry Farrell, François Truffaut retornou ao universo noir que permeou algumas de suas obras como “A Noiva Estava de Preto” e “A Sereia do Mississipi”. Desta vez, abordando a questão do beneficio da duvida em uma trama calçada no passado.

 

Em uma trama fundamentada principalmente nas lembranças do passado, François Truffaut utilizou os flashbacks aliados à montagem paralela como elementos essenciais na trama.

 

O diretor investiu em planos mais fechados, priorizando os atores na cena como é comum acontecer nas suas obras. Closes nos rostos dos atores são utilizados para captar suas expressões.

 

Como os flashbacks dão sentido da narrativa, Truffaut lhes conferiu agilidade. De modo que o flashback em questão desse o tom de determinada cena.

 

Se tratando de um filme calçado principalmente nas memórias da protagonista Camille (Bernadette Lafont) e no ato de contar a sua vida ao sociólogo Dr. Previne (Andre Dussoller) para sua tese, a presença do narrador se torna indispensável. O narrador em “Off” torna possível que o espectador mergulhe nas lembranças de Camille (Bernadette Lafont) de tal forma que possamos compreender a personagem.

 

A trilha sonora de Georges Delerue é essencialmente dramática, contribuindo para que o suspense da trama se desenvolva de maneira verossímil.

 

O roteiro de François Truffaut e Jean-Loup Dabadie é organizado de forma em que os flashbacks se sobrepõe à narrativa. Assim colocando a prova tanto às evidencias quanto a honestidade da protagonista Camille (Bernadette Lafont), concedendo ao espectador o beneficio da dúvida.

 

Os personagens foram bem delineados pela dupla de roteiristas de modo que a função narrativa de cada um bem claras, exceto por Camille (Bernadette Lafont) cuja personalidade é soturna.

 

A fotografia de Pierre-William Glenn é pautada no uso de sombras e cores frias, combinando com o clima soturno que permeia o filme.

 

A trilha sonora de George Delerue tem cunho dramático e remete ao universo de suspense do filme, conferindo um aspecto sombrio a narrativa.

 

O elenco todo se sobressaiu por excelência. Sobretudo Bernadette Lafont (Camille), que construiu uma personagem dúbia todo o tempo. André Dussollier (Dr. Prévine) construiu seu personagem com características idealistas.

 

De todos os casos amorosos da protagonista, Sam Golden (Guy Marchand) o músico parceiro de Camille é quem mais se destaca. Muito desse destaque se deve ao excelente desempenho do ator que construiu o personagem de maneira sedutora.

 

 

François Truffaut retornou ao universo noir de maneira excelente neste filme. Nessa trama surpreendente sobre o beneficio da dúvida, o diretor revisitou o universo do suspense, onde homenageou o diretor inglês Alfred Hitchcock, um de seus favoritos, além da própria filmografia.