terça-feira, 26 de março de 2013

Coração Vagabundo





Desmistificar um artista do porte de Caetano Veloso não é uma tarefa das mais fáceis, mas esse parece ser o principal mote de “Coração Vagabundo” o documentário sobre o artista dirigido por Fernando Grostein Andrade durante a turnê internacional “A Foreign Sound”.
Ao acompanhar Caetano em sua turnê internacional Fernando estabelece com o cantor (que aqui desempenha o papel de “ator social”) e consequentemente com o espectador uma relação de proximidade com o seu protagonista, buscando assim a identificação do publico com o material que é exibido.

Conferindo á o próprio Caetano a função de "guiar" o filme, o documentário estabelece assim uma relação próxima com o seu público seja ele o espectador como já foi dito ou o próprio público do artista que foi assisti-lo durante a sua turnê internacional.

O artista (aqui o “ator social”) desconstrói a todo o tempo qualquer imagem de mito que os longos anos de carreira possam ter lhe trazido. Pelo contrário, Caetano se expõe com naturalidade o que permite ao diretor Fernando Grostein Andrade possa conferir ao filme um aspecto mais intimista.
A opção de Fernando de construir o filme como sendo um documentário observacional de sua parte (e não participativo), isto é a figura do realizador (no caso Fernando) de não aparecer frente à câmera garante maior foco e destaque na figura de Caetano, apesar de nós quanto espectadores sabermos que Fernando está ali presente observando e registrando tudo.

Há em “Coração Vagabundo” uma agilidade e sobreposições de planos que acompanham o ritmo do cantor. Nesse sentido, Caetano “comanda” a narrativa fílmica, pois é através dos seus depoimentos que determinam a ordem das imagens na tela.


 O documentário possui uma estrutura narrativa muito dinâmica. Cobre o lado artístico do cantor, incluindo ensaios para a turnê, bastidores, a relação de Caetano com o público (e do público para com ele), as influências e como o músico se relaciona com a crítica. Todos estes fatores garantem ao documentário uma perspectiva muito pessoal e permitem que Caetano se exponha tal como é: uma pessoa humilde, um artista criativo e uma pessoa como uma ideologia muito clara á respeito do papel da música na sua vida e consequentemente na sociedade.

O fato de o próprio perfilado ser o “guia” do filme garante ao cantor um ambiente confortável para que possa se expor com naturalidade e discursar sobre vários temas que cercam o seu universo musical: o tropicalismo, a relação com a crítica e suas inspirações por exemplo.

O documentário se revela muito “aberto” no sentido de que abre espaço para o público discursar sobre a importância de Caetano Veloso, este, aliás, é um dos melhores momentos do filme com depoimentos mais que especiais de personalidades como Pedro Almodóvar e Michelangelo Antonioni (sobretudo considerando que Antonioni deu uma de suas ultimas entrevistas, vindo a falecer posteriormente).


Com um Caetano totalmente aberto e acessível, Fernando Andrade criou uma atmosfera intimista no longa que permitiu ao espectador encontrar uma narrativa passível de identificação ao grande público (sendo fã do cantor ou não).

O resultado de “Coração Vagabundo” é uma experiência cinematográfica agradável e reveladora no sentido de que exibe todas as inúmeras nuances de um artista de talento e carismas imensos com propriedade e leveza.












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