sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Um Lugar ao Sol




Eu sou um grande fã de Realitys Shows como já mencionei aqui sobretudo aqueles que possuem um caráter confessional semelhante a um estilo soap-opera e a proximidade desses filmes com os documentários. Outro exemplo de documentário nesse estilo é "Um Lugar ao Sol" do cineasta Gabriel Mascaro.


Neste filme Mascaro adentra o cotidiano de moradores de uma luxuosa cobertura no Rio de Janeiro onde propõe um retrato de suas vidas e uma reflexão sobre temas como Status,posição social,luxo,conforto e poder. 


O Diretor Gabriel Mascaro se preocupa em construir uma noção da grandiosidade de seu objeto de estudo no espectador desde o inicio,talvez por isso invista em imagens aleatórias de construções,imagens da rua e planos gerais com a clara intenção de evidenciar que estamos diante de algo magnânimo mas os cortes bruscos, a trilha incidental estridente e chata  e principalmente a montagem torpe que não tem a mínima noção de continuidade acaba por quebrar o eixo narrativo de algo que poderia render muito mais do , que rende.


O que realmente torna "Um Lugar ao Sol" minimamente interessante são os depoimentos dos moradores do condomínio de luxo. através deles podemos ter um reflexo do significado do "Status Social", sua relação com o dinheiro , a ideia de superioridade, a diferença entre luxo e conforto, ambições ,exclusividade e o olhar sobre o outro.


Tendo depoimentos de todos os tipos desde o "novo rico" até aquele com consciência da realidade e do conceito de igualdade social passando por aqueles que revelam uma posição de superioridade inflada presos as suas próprias "bolhas" particulares que a sua situação social lhe permite revelando assim um alto e gravíssimo estado de alienação que chega a níveis tão alarmantes que acaba por assustar o espectador que aquele individuo teve coragem de falar abertamente aquelas insanidades perante a presença de uma câmera. Enquanto outros em contrapartida apesar de cientes da sua posição social privilegiava possuem uma consciência e preocupação com o próximo.
Esta é a "batalha" conceitual de "Um Lugar ao Sol" o filme nada mais é do que um estudo dos estados de consciência e alienação que acomete as classes sociais. Parece que estamos assistindo a um novo episódio de "Mulheres Ricas" ou qualquer programa do gênero mas enquanto o Reality Show tem no humor uma válvula de escape para justificar a extravagância e insanidades cometidas pelos seus "personagens". Aqui, por outro lado não temos humor o que temos é o espetáculo degradante da alienação salvo alguns participantes que se preocuparam em enriquecer também o cérebro e não apenas a conta bancária.


Interessante observar a questão da perda de pudores e exibicionismo versus a intimidade e privacidade. Os participantes tem a clara intenção de desfazer ou reforçar - e quando o fazem é sem vergonha nenhuma os estereótipos que são construídos a sua volta pela hierarquia social a que pertencem. Ou o rico se preocupa em demonstrar sua preocupação com a figura do outro ou reforça sua posição de superioridade.


Gabriel Mascaro imprime(ou tenta imprimir) uma direção pífia ao filme. Investindo nos jogos de câmera que quase destroem momentos cruciais dos depoimentos. Além de quebrar a continuidade com planos gerais desnecessários. Seria melhor se Mascaro fosse apenas um mero ouvinte durante todo o filme e deixasse os reais protagonistas conduzir o documentário.



No fim, "Um Lugar ao Sol" se revela um estudo dos estados de alienação e consciência social. Uma proposta interessante que se aproxima dos Realitys Shows sim mas se perde na própria grandiosidade se revelando um filme vazio.






sábado, 19 de outubro de 2013

Parents



Eu sou um grande fã da Legião Urbana(o nome desse blog é o nome de uma música da banda). A primeira música da banda que eu ouvi foi “Pais e Filhos” e confesso que nunca tinha imaginado que ela daria um filme assim como “FaroesteCaboclo” mas o mineiro Thales Corrêa imaginou e a metafórica canção da banda inspirou o Curta-Metragem “Parents”.

Produzido nos EUA e inteiramente falado em inglês “Parents” utiliza a canção da banda Brasiliense como inspiração para retratar os conflitos familiares e o despertar de uma jovem garota(Coco Joelle Williams) ao mesmo tempo em que precisa lidar com o caos que se tornou a vida conjugal de seus pais(Ludmila Dayer e Heldane Morris).

O diretor Thales Corrêa induz seu filme ao um terreno metafórico e poético tal qual a canção que o baseia. Thales se revela um diretor atento aos mínimos detalhes e extremamente hábil em utilizar as entrelinhas e simbolismos que existem ali para retratar o universo interno de seus personagens especialmente da Garota (Coco Joelle Williams).

O silêncio tem um papel narrativo de grande importância em “Parents”. Ele leva o espectador para o universo interior daqueles personagens ao mesmo tempo que deflagra tanto o despertar daquela menina na difícil tarefa de crescer servindo para dar o tom das suas descobertas quanto retrata o ambiente hostil que a jovem se encontra. O silêncio estabelece e estrutura as relações entre os personagens(ou a falta delas).

O diretor revela uma habilidade em explorar os mínimos detalhes, um exemplo disso é o fato da sua câmera estar quase sempre em movimento a procura de algo, adentrando o cenário sempre com planos descritivos ao mesmo tempo em que utiliza os closes e movimentos de câmera circular para expressar a interação entre os personagens. “Parents” possui cenas recheadas de lirismo e poesia(fato acentuado pela poderosa trilha instrumental) em que a jovem menina se “fecha” em seu mundo particular para escapar dos conflitos que acometem seus pais. Neste e em outros momentos Correa da um tom metafórico e fantástico as cenas como se a jovem estivesse reclusa em sua própria bolha. Bolha esta que é sempre quebrada pelos fatores internos de seu lar.

Thales imprime uma suave agilidade as cenas com a intenção de captar todos os pontos de vista daquele cenário familiar prestes a desabar, para isso utiliza de flashbacks , trucagens e sobreposições de cenas que representam o choque de realidade da protagonista(Coco Joelle Williams) com o seu real conflito familiar.

O fato de o filme ser visto sobre o ponto de vista da menina garante aos espectador um olhar terno e puro sobre a situação que se acomete aquela família.

“Parents” me lembrou muito os longas “Pauline na Praia” do francês Eric Rohmer e “A Deriva” do Brasileiro Heitor Dhalia pela forma com que retrata o despertar da jovem(Coco Joelle Williams).


Agora o que mais me chamou atenção em “Parents” foi a sua bela fotografia. Utilizando um granulado forte e poderoso a fotografia de Tobias Delm ressalta a poesia e o lirismo que permeiam o filme.

Os atores expressam sintonia em cena estando confortáveis e ótimos em seus respectivos papeis. Coco Joelle Williams atua de maneira singela e doce exprimindo graça e ternura em cena. Sua sintonia com Heldene Morris que interpreta seu pai é deliciosa de se assistir.  Heldene, é outra grata surpresa do Curta. Um ator com uma atuação primorosa ao mesmo tempo sensível e delicada.

É ótimo constatar o quão Ludmila Dayer cresceu como atriz. Eu não acompanhava seus trabalhos havia alguns anos e é maravilhsoso ver a sua evolução que acaba resultando em uma atuação segura e controlada bem como a personagem exige. A atriz se empenha em construir a falta de afeto na relação entre ela e Coco Joelle interprete de sua filha. Uma cena em especial me deixou abismado com a capacidade de atuação de Ludmila (que eu não vou contar obviamente mas quando vocês assistirem vão sacar qual é essa cena).


Por fim, concluo que “Parents” é um filme sensível e encantador. Não só por que levou a música da minha banda favorita ao um significado imaginável mas porque a sensibilidade e poesia que Thales Corrêa imprime em seu curta me emocionou.    






quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Tempo e o Vento




A obra “O Tempo e o Vento” tem extrema importância não só literária mas também histórica pois retrata a formação do estado do Rio Grande do Sul e uma parte importante da história do Brasil. A Obra máxima de Erico Veríssimo agora ganha as telas pelas mãos do diretor Jayme Monjardim.


O diretor conhecido por ter um estilo muito cinematográfico nas produções televisivas que dirige agora encontra a obra certa onde pode realizar um filme bem ao seu estilo.


”O Tempo e o Vento” é estruturado como um grande flashback. A habilidade de Monjardim em comandar as cenas com longas takes imprimindo uma beleza estética impar nas imagens tornando-as vivas e colocando o espectador dentro da ação contada por uma Bibiana idosa(Fernanda Montenegro, em atuação emocionante). É a partir dos relatos de Bibiana a Capitão Rodrigo(Thiago Lacerda) que o longa situa o espectador.

O filme é construído como um épico e assim é comandado pelo diretor que usa todas as “marcas” que são famosas em sua maneira de dirigir: planos longos,ritmo um pouco mais lento da narrativa, closes e uma câmera sempre a espreita disposta a captar a beleza das imagens de forma a engrandecer o filme e reforçar a intenção de se construir um filme épico, para isso investindo em planos abertos nas locações retratadas no longa. O filme tal qual o livro que o baseia parece ser divido em “capítulos” talvez pela clara intenção de transformar o filme em microssérie, a direção de Jayme contudo “costura”(ao lado da montagem evidentemente) esse capítulos ao filme encaixando-os de maneira harmônica e crível.

Quem conhece os trabalhos que o diretor assina pra televisão sabe que o seu trabalho tem duas vertentes bem significativas. Se por um lado o diretor é aquele das belas(e longas imagens),trilha instrumental e belíssima fotografia por outro, ele é um exímio diretor de atores e isso fica claro em “O Tempo e o Vento” especialmente nas cenas entre Bibiana(Fernanda Montenegro), Capitão Rodrigo(Thiago Lacerda) e nas cenas de guerras e conflitos como por exemplo as que deflagram a morte da família de Ana Terra(Cléo Pires), a tropa de Coronel Amaral(José de Abreu) e a guerra na qual Capitão Rodrigo(Thiago Lacerda) é atuante. Jayme imprime uma agilidade cênica nas cenas de embate.



O roteiro de Tabajara Ruas talvez seja o único revés do longa. Com um ritmo demasiado arrastado, sem grandes atrativos e alguns diálogos fora de contexto, o roteiro de Ruas não se impõe como algo único,não possuindo brilho próprio enquanto roteiro inspirado em obra literária. Analisando agora, foi até melhor o roteirista não ter tentado se impor muito pois dada a magnitude e características muito fortes da obra de Veríssimo quaisquer mínima alteração poderia descaracterizá-la.


A habilidade de Monjardim em conduzir os atores acabou por resultar em atuações inspiradas e convincentes do elenco. Fernanda Montenegro e Thiago Lacerda transmitem emoção e sensibilidade em suas atuações possuindo excelente química cênica juntos. Marjorie Estiano também demonstra química com Lacerda ao encarnar Bibiana na fase jovem. Cléo e Suzana Pires demonstram igual empatia ao encarar em fases distintas a mesma personagem a mítica Ana Terra. Embora Cléo tenha alguns problemas de dicção logo no inicio do longa(depois corrigidos).  José de Abreu brilha ao encarnar de Ricardo Amaral de forma verdadeira e intensa. Magnânimo.


Um dos grandes acertos de “O Tempo e o Vento” é a sua belíssima fotografia(como falei acima). A cargo de Affonso Beato,parceiro habitual de Monjardim. Beato investiu em cores quentes de forma a ressaltar e enaltecer as lindas paisagens capitadas por Jayme Monjardim. Embora as cores quentes predominem nas duas horas de duração Beato não só experimenta outras texturas dessas cores quentes como se permite utilizar um azul gélido no prólogo, instaurando assim a tensão dramática que aquela ocasião necessitava. Posso afirmar sem sombra de dúvidas que a fotografia é uma das melhores(se não a melhor) coisa no filme.




Dono de um estilo de direção muito particular, Jayme Monjardim encontrou em “O Tempo e o Vento” um canal para imprimir seu estilo. Tamanha identificação e conhecimento sobre o tema transforma “O Tempo e o Vento” em um filme belo, emocionante e com traços estilísticos.  









  
    


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Elysium



“Até onde você iria para salvar a sua pele?” esse é o mote principal da ficção científica “Elysium”. Max(Matt Damon) é um funcionário de uma industria que é exposto a radiação química e condenado a morte, para se salvar ele deve chegar a privilegiada Elysium.


O filme combina muito bem esses dois universos e temáticas que contrastam entre si mas que funcionam no ideal proposto pelo filme de maneira a representar metaforicamente crítica social, desigualdade social e os ideais de perfeição e utopia. Nesse sentido o diretor Neil Blomkamp foi extremamente eficiente ao construir um filme que representasse universos tão distintos em imagens fortes evidenciando as mazelas e os ideais de perfeição propostos pelo longa. Neil apostou em planos mais abertos e descritivos por um lado buscando evidenciar a situação social vivida na terra por outro movimentos de câmera como plongeê , contra-ploongêe e grandes planos gerais.

Talvez o maior diferencial de “Elysium” aos outros filmes do gênero é que ele trata de um tema muito real, humano e universal. Por este motivo, Neil Blomkamp trabalha o humanismo tanto no roteiro nos aspectos narrativos quanto no trabalho de direção. É claro que há em Elysium toda a parafernália tecnológica e aspecto futurista mas há um humanismo tanto na proposta do longa- há uma crítica social subtendida ao mostrar uma terra cheia de mazelas e um grupo privilegiado deixa claro a questão da desigualdade social por exemplo. Blomkamp parece ter bebido em outras fontes e revisitado filmes do  gênero como “Johnny Mnemonic” para construir “Elysium”.

 O diretor(e também roteirista, informação que só soube depois de assistir ao filme) construiu personagens multifacetados e com intenções bem traçadas dentro da trama. Eles têm seus objetivos e são capazes de burlar certos limites em prol do seu objetivo. O fato do diretor também ser roteirista explica porque a direção e roteiro estão tão bem alinhados no filme.

Neil Blomkamp consegue conciliar dois aspectos do trabalho de um diretor de forma magnânima como muitos de seus colegas tentam mas não conseguem. Ele é um excelente diretor nas cenas de ação , explosões, o aspecto futurístico do filme e mais excelente ainda na direção de atores,ressaltando a interação cênica entre os atores com closes, planos próximos e plano contraplano por exemplo.


A montagem habilidosa fica a cargo de Trent Opaloch chama atenção pelo seu dinamismo impecável. A maneira como as cenas foram montadas deram um ritmo ágil incapaz de cansar o telespectador, sobretudo pela forma que as transições de cenas são feitas ,parece que estamos diante de uma ruptura.



Matt Damon impressiona mais uma vez. É incrível a capacidade que o ator tem de ser camaleônico e ainda por cima de trabalhar as diversas nuances de seu personagem ,estando completamente o oposto de um filme como “Nós Compramos um Zoológico”, (onde conheci seu trabalho mais a fundo e passei a admira-lo) mas ainda humano.

Jodie Foster dispensa apresentações. A presença e a força cênica que a atriz imprime em sua personagem que aqui representa de maneira metaforizada se fizermos um paralelo a ambição de ascenção social sem limites. Jodie está absolutamente estupenda como a secretária Delacourt e ponto final.

Alice Braga está ótima como Frey. A atriz esbanja carisma e principalmente humanismo em uma personagem com potencial carga dramática, Alice faz sua personagem crescer em uma constante e termina como um destaque fundamental no longa. Já Wagner Moura, este em seu primeiro trabalho internacional demora a achar o tom exato de seu personagem “Spider” encontrando ainda algumas dificuldades para estabilizar este tom cênico mas quando o faz por completo acaba por se destacar garantindo assim o passaporte para uma carreira de sucesso em Hollywood.



Eu admito que tinha várias ressalvas com filmes de ficção cientifica por eles serem futurísticos e fantásticos demais e assim tirarem o que considero de mais importante na atuação: O Naturalismo. “Elysium” me conquistou justamente por saber dosar uma temática realista com elemento fantástico impressionante e atuações que transbordam emoção. Precisamos de mais filmes como este pois estamos carentes de “viajar” em um mundo fantástico e mesmo assim se identificar.  





sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A Caça



Thomas Vinterberg é um diretor afoito a temas densos como o abuso e as relações familiares temas já vistos em seu longa mais famoso "Festa de Família". Agora, Vinterberg retorna a essa temática de uma outra maneira.



Lucas(Mads Mikkelsen, ótimo) um professor recém divorciado tenta retomar as rédeas da vida e estabelecer uma reaproximação com o filho Marcus(Lasse Fogelstrom,igualmente ótimo.) trabalhando em uma escola infantil ele tem uma relação de carinho com as crianças até que uma acusação de abuso transforma sua vida em um inferno.



O diretor Thomas Vinterberg estrutura a narrativa em bases solidas e fortes ressaltando o teor sombrio que a permeia. apostando muito na dinâmica ator-texto Vinterberg extrai de seus atores performances viscerais utilizando uma câmera na Mao que adentra ou melhor alastra o filme desbravando-o. O uso constante do corte seco dilacera o horizonte de expectativas do expectador envolto naquele universo repleto de densidade e tensão dramática em nível Maximo. O jogo de câmera constante que aliado a câmera na Mao deixa a imagem obviamente tremida ressaltando o aspecto perturbador da narrativa. O fato dos movimentos de câmera meramente descritivos- Álias, muito bem executados por Thomas Vinterberg com toda a capacidade técnica que lhe cabe- a câmera aqui parece ter sempre a intenção de revelar algo , rondando sempre a espreita do inevitável. 

Com a câmera sempre em movimento, mesmo nos momentos em que está focada em algo,ela nunca está estática sempre em movimento,nem que seja mínimo. depois que a acusação de abuso é formalizada a direção acompanha a virada do roteiro  e passa a apostar em cortes ainda mais abruptos abusando ainda mais do corte seco e das elipses. A densidade já está embutida e ela decorre em níveis ora brandos e ora asfixiantes.



O roteiro tem uma forte estrutura com excelentes curvas dramáticas. O roteiro evolui numa crescente com poderoso teor psicológico e pontos de virada surpreendentes. O elemento surpresa sem dúvida é um fator determinante em "A Caça" a maneira com que Vintenberg constrói as relações entre os personagens só pra depois coloca-los em posição eminente e desconstruí-los é fascinante. Seu conhecimento sobre a carpintaria dramática é admirável sobretudo a maneira com que expõe seus  personagens em situaçoes-limite e aparentemente irreversíveis e o uso de metáforas


Agora, o mais tecnicamente impressionante em "A Caça" é a sua belíssima  fotografia. É onde os preceitos do Dogma 95 ficam mais evidentes. A iluminação natural e o contraluz funcionam perfeitamente estética e plasticamente. De certa maneira a fotografia funciona como um reflexo da intensa dramaticidade do longa.




O resultado de "A Caça" é um filme de altíssimo nível e de densidade extrema. Thomas Vinterberg nos entrega um filme de extremos. Intenso,forte e de enorme tensão dramática, Vinterberg experimenta outros caminhos para desvendar a psicologia humana.
 É impossível afirmar que este "A Caça" é ou não superior ao longa mais famoso do diretor "Festa de Família" por se tratar de temas similares mas o fato é que Thomas Vintenberg evolui na forma e na temática nos entregando um filme com características próprias mas igualmente perturbador.






quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O Bandido da Luz Vermelha




Em seu primeiro filme, “O Bandido da Luz Vermelha” Rogério Sganzela já deixava claro a sua adoração pela arte cinematográfica.

Contando a história do Bandido(Paulo Vilaça) um criminoso de incrível destreza que trava um verdadeiro jogo de gato e rato com a policia provocando medo e admiração na população da boca do lixo paulistana.



Com uma narrativa ágil e frenética o diretor construiu uma obra ao mesmo tempo autoral e referencial ao mesmo tempo. Com influencias dos gêneros policial e Noir, Sganzerla produziu um filme que representava a sua leitura desses gêneros combinando agilidade a uma estética propositalmente suja e utilizando-se de um anarquismo e uma acidez na construção dos diálogos e das situações. Ao construir as situações em que o Bandido se envolvia o diretor não temeu exagerar na dose adicionando comédia pastelão, humor negro, sensacionalismo barato e situações non-sense pois ao descaracterizar totalmente o gênero Sganzerla deu uma nova costura e garantiu sua marca própria ao seu filme.

O sensacionalismo barato citado acima é mais uma das brincadeiras de gênero que o diretor propôs no seu longa. Ao adicionar uma narração própria dos programas policiais o diretor promove um resgate do gênero aqui utilizado de forma cômica e satírica desconstruindo-o ao optar pelo exagero proposital e  um sotaque carregado dos narradores com muito humor-intencional diga-se de passagem- o diretor consegue que a narração atinja dois objetivos distintos: imprima uma espécie de frenesi ao longa e carregue o nível de humor satirizando os próprios signos da sétima arte.

O longa é essencialmente o intenso jogo de gato e rato que decorre entre o bandido o diretor imprimiu um dinamismo impressionante nas sequencias além de uma boa dose de humor escachado é claro, isso contribui para manter o espectador ligado no enredo durante sua uma hora e meia de duração.



A grande diferença está na forma que Sganzerla trabalha esses clichês convertendo-os ao seu tributo de forma pessoal estilística e principalmente autoral.
Munido desse arsenal de referências Sganzerla prestou tributos ,citações e fez críticas acidas(sempre de forma satirizada é claro) ao cinema novo e a estilização das artes como um todo.

Quantos aos tributos inseridos aqui de forma muito inteligente diga-se de passagem,

pode-se notar claramente referências ao “Acossado” de Jean-Luc Godard e a “Psicose” de Alfred Hitchcock. Ao primeiro pode se perceber tanto pela estética e plástica de ambos os filmes,os trejeitos dos protagonistas e algumas cenas similares. Do segundo a referência é clara quando o Bandido(Paulo Vilaça) literalmente faz uma vitima em baixo do chuveiro,tal qual a famosa cena do longa do diretor inglês.



O diretor adotou um modo de direção ágil e com muito frenesi, com cortes secos e sobreposições além de jogos de câmera habilidosos e movimentos de câmera descritivos mantendo o nível de suspense combinado com o frenesi e a agilidade latente.



O resultado de “ O Bandido da Luz Vermelha” é um filme divertido, estilístico ,pessoal e com ótimas sacadas. Não importa o que você faz mas sim a maneira como você faz diferente.