sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Elena




Acabo de assistir á “Elena” documentário de Petra Costa sobre sua irmã Elena Andrade e ainda estou em transe, me faltam palavras para definir o que acabei de assistir mas enquanto eu remonto o filme na minha cabeça eu vou ao menos tentar defini-lo.


Primeiro Petra você foi de uma coragem absurda ao remontar o seu passado, foi um exercício de superação extremo que eu não sei se eu seria capaz. Só pela sua coragem Petra você já merece elogios.

Mas “Elena” é mais. Enquanto filme “Elena” é um resgate e uma descoberta. Um resgate pra você enquanto Irmã e diretora e uma descoberta pra você enquanto Irmã e para nós espectadores.

A forma como você abre o seu baú de memórias no documentário convertendo-o á material fílmico é fascinante. Mais fascinante ainda é a maneira como você mantêm o espectador inerte a essa história (por essa inércia e por esse êxtase encontro dificuldades de “remontar” o filme na minha mente nessa hora em que escrevo as minhas impressões sobre o filme.

Petra você coloca o espectador em um “salto no escuro” do seu poderoso baú de memórias sobre Elena ou será sobre você mesma. Tem momentos em que a persona de uma se misturam e eu realmente acredito que contar a história de Elena você está contando sua própria historia de vida também.

Sobre o “Salto no escuro”, sua narrativa fílmica evolui de forma imperceptível desse modo, o espectador perde a noção do tempo e do espaço fílmico e quer saber? Pouco importa pois quando nós aceitamos embarcar nessa viagem de conhecimento sobre essa figura mítica que é Elena sabíamos que seria uma viagem indescritível só que eu não imaginava que iria mergulhar numa viagem dentro de mim mesmo.

“Elena” é um filme de sonhos e sobre a trajetória da sua protagonista Elena Andrade, uma jovem determinada cheia de sonhos. É também um filme sobre duas irmãs que se conectam pela força dos laços que as une através de uma viagem.

Sabe Petra, eu também tenho o sonho de me tornar ator. Ator e Cineasta assim como você. Estudei interpretação na infância e adolescência e entrei na faculdade de Cinema para melhorar as minhas críticas e atuar nas produções da faculdade. Acabei me apaixonando pela arte cinematográfica como um todo. Mas como Elena eu estou sempre em busca de MAIS e com a mesma determinação que a da sua querida irmã eu tenho certeza que vou conseguir.

Assim como você Petra também uma viagem que me conectou novamente a minha irmã Roberta que eu amo de paixão por tudo mas principalmente pela garra dela assim como eu tenho certeza que você amava sua querida irmã Elena também pela determinação dela.


Desculpe ficar falando de mim na crítica do seu filme Petra, mas acontece que “Elena” me proporcionou uma experiência como um espelho pra dentro de mim mesmo. É isso, essa é a definição para o seu filme: “Elena” é um espelho pra dentro da sua história e pra dentro de nós mesmos.


Eu só tenho a agradecer Petra pelo seu filme belíssimo, pela transformação que ele me provocou , pela sua generosidade em partilhar sua história conosco. Seu filme foi á faísca de coragem que me faltava para também contar a minha história.



domingo, 22 de dezembro de 2013

Cine Holiúdy



O Longa-Metragem “Cine Holiúdy” é acima de tudo uma homenagem ao Cinema e os seus mais diversos gêneros. O filme de Halder Gomes retrata a luta do exibidor Francisgleydisson(Edmilson Filho) para manter o cinema vivo frente a popularização da TV na década de 70 no interior do ceará.


“Cine Holliúdy” é construído para ser uma grande e divertida sátira ao universo cinematográfico e cumpre seu objetivo com louvor emanando graça e magia.

O Diretor Halder Gomes aposta na simplicidade e na imaginação ao dirigir este grande e divertido tributo a sétima arte. Com uma direção de atores delicada e uma grande habilidade em compor e trabalhar os planos dotado de uma grande agilidade( não só no que diz respeito a direção mas também ao domínio da narrativa) Gomes surpreende o espectador a todo o momento pelo elemento surpresa que acomete o longa. Acontece que o diretor, tendo já brilhantemente conquistado o espectador já nos primeiros minutos de filme dado a riqueza da história, a delicada construção de cenas e o carisma de seus atores se dá o direito de ousar. Ousar em vários aspectos: No corte rente dos planos, na sobreposição de cenas e na inclusão de efeitos provenientes do desenho animado causando uma quebra na estrutura dramática e no fluxo narrativo da história.


Para administrar todas estas “quebras de fluxo” e dar sustento narrativo á história, o longa possui uma montagem paralela poderosa que mantêm o espectador inerte aquele determinado plot narrativo para depois voltar a elas. Voltando a questão da agilidade na composição fílmica , o diretor adota uma agilidade muito perspicaz nas cenas apostando em uma miscelânea de linguagens e signos audiovisuais incorporado a trucagens fílmicas e a um humor característico do ceará.

     Halder Gomes brinca com os gêneros e signos do cinema a todo o momento em “Cine Holiúdy”. Essencialmente uma comédia metalinguística e um tributo a sétima arte o longa se converte ao explorar outros gêneros incorporando-os a sua narrativa. De comédia satírica a um Road Movie passando pelo cinema de ação, o longa desafia o espectador a decodificar os signos do cinema a todo o momento se tornando uma interessante brincadeira entre o filme e os personagens- bem como ao espectador.


A fotografia do longa a cargo de Carla Sanginitto explora as belezas naturais da paisagem bem como um Road Movie exige. Utilizando um granulado na maioria do tempo que realça a beleza das imagens convertendo-as em um elemento narrativo poderoso para a construção fílmica do longa. Essa conversão fica explicita em uma cena em especial no qual Graciosa(Miriam Freeland) a esposa de  Francisgleydisson(Edmilson Filho) tem sonhos. Considerado um “Ponto de Virada” do filme estes sonhos envoltos em uma atmosfera onírica possuem um tom azulado especial para demarcar a sua importância para o andamento do filme.


O roteiro escrito por Helder Gomes tem um humor muito característico. Os diálogos e referencias possuem uma forte veia cômica acentuada. A linguagem adotada no longa(que apresenta legendas por contêm expressões características do povo cearense) é fortemente “carregado nas tintas” da comédia se tornando uma experiência engraçada, emocionante e (muito) divertida.

  
O elenco inteiro esteve exímio em suas interpretações e confortável em seus devidos papéis mas é necessário destacar quatro nomes: A começar por Edmilson Filho, a graça e o talento que o ator dispõe para a comédia que surge aqui de maneira natural aliado a sua habilidade criativa de fonética e imitação. Além disso, Edmilson a forma com que o ator humaniza Francisgleydisson nos faz embarcar no sonho do personagem de maneira impar e acompanhar sua saga vidrados no enredo do longa.


Miriam Freeland faz de Graciosa a esposa de Francisgleydisson o esteio do filme. Miriam interpreta uma mulher forte e batalhadora e ao mesmo tempo dotada de um humor muito sutil. A atriz soube trabalhar todas as nuances de sua personagem com maestria resultando em uma atuação emocionante.

Joel Gomes que interpreta Francisgleydisson Filho o filho dos personagens de Edmilson Filho e Miriam Freeland impressiona pela graciosidade e pela rapidez de sua veia cômica. Articulado e de raciocínio ágil o ator faz uma boa dupla com Edmilson além de estabelecer uma relação cênica com ele e Miriam Freeland baseada na afetividade.


Roberto Bomtempo é um show á parte do filme. Interprete do prefeito Olegário Bomtempo atua de maneira demasiada cômica e de forma deliciosamente caricatural o que cai muito bem ao personagem resultando em uma performance divertida e altamente engraçada que com o imenso talento e carisma que o ator empresta ao personagem conquista o público logo de cara.




“Cine Holiúdy” é um ótimo filme. Leve e despretensioso é uma grande homenagem a arte cinematográfica e os seus gêneros. O filme nos conquista pela sua simplicidade e emoção e nos faz querer mais. Além disso, “Cine Holiúdy” é a prova de que pode(e deve) haver uma abertura no Cinema Brasileiro para explorar outras praças além do habitual Rio- São Paulo e uma amostra do mais competente Cinema Autoral.




sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Os Idiotas



Anárquico talvez seja a melhor definição para “Os Idiotas” de Lars Von Trier longa feito seguindo os preceitos do Dogma 95.

Um grupo formando uma sociedade a margem da sociedade com o intuito de chocar,escandalizar aqueles que vivem em um nível acima. Assim essas pessoas libertam “o seu idiota interior”. Se pensarmos bem o filme é em suma uma grande e perturbadora  crítica a os padrões estabelecidos pela sociedade. Perturbador pelo fato da mise -en- scene(os protagonistas fingem ter doença mental) fato reforçado pela câmera na mão de Von Trier que reforça o aspecto perturbador e de deslocamento social em que vivem os protagonistas.


O diretor não tem medo de chocar e usa o poder das imagens para reforçar essa premissa. Escatológico, sexual, libertino são muitas as definições que podem se aplicar ao filme mas no meio de toda essa anarquia encontramos um subtexto de um estado elevado de consciência que cerca os protagonistas.

Mas o apuro técnico subverte (ao mesmo tempo que reforça) todo o teor anárquico do longa. A câmera na mão confere um ar tremido a ação dramática e coloca o espectador dentro da ação em uma clara posição de desconforto. A luz natural confere um aspecto mais purista as imagens.

  O diretor flerta com outras estéticas fílmicas em “Os Idiotas” como o documentário adotando um tom confessional em certos momentos da narrativa. Von Trier rompe com os signos e estruturas do cinema a todo o momento durante o filme assim como com o próprio entendimento do espectador sobre o que está sendo visto.


Ao romper com o curso narrativo em movimento de maneira abrupta o diretor o fragmenta e abre espaço para outras interpretações contidas nas entrelinhas sobre a real face dos idiotas por exemplo, o que nos leva a um jogo interessante de descodificar a mise –en –scene e a atuação performática dos atores. “O personagem dentro do personagem”. É um questionamento complexo e talvez não atinja o espectador de massa mas faz todo o sentido.


É inevitável relacionar o grupo social dos idiotas com a “Sociedade dos Poetas Mortos” do filme homônimo. Sim, eu tenho quase certeza que Lars Von Trier bebeu nessa fonte pelas semelhanças em gênese que os dois filmes apresentam.



“Os Idiotas” é um filme perturbador sobre as diferenças que faz uma crítica (ainda que satírica) aos padrões de aceitação impostos pela sociedade.   



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Agenor- Canções de Cazuza


O cantor Cazuza deixou uma gigantesca obra musical. Não só aquelas gravadas por ele em carreira solo ou na época em que era vocalista do Barão Vermelho, composições suas que foram sucessos na voz de outros artistas. O fato é que o cantor deixou um imenso repertório de “B-Sides” canções pouco conhecidas mas de imenso valor artístico e afetivo.


Resgatar esse “lado B” do cantor tendo sua obra visitada(ou revisitada) pela nova geração essa é ideia do projeto “Agenor- Canções de Cazuza que visa revisitar a obra do cantor pela nova geração da cena independente. Esse documentário de Tatiana Issa e Guto Bessa é o registro dessa empreitada.

Concebido para registrar a experimentação que resultou nesse projeto que rendeu show e cd “Agenor- Canções de Cazuza” foge dos padrões de um documentário exibido exclusivamente na TV e também pela sua estrutura ousada fugindo dos padrões daquele esquema “entrevista- música- flashbacks”. Pelo contrário, os documentaristas não tem medo de registrar o ensaio, a experimentação daquelas canções pelos artistas, o treino, o encontro do timbre, a repetição até encontrar a perfeição. Essa repetição não cansa o espectador por dois motivos: Primeiro pela beleza da musicalidade das canções e pela grandeza artística de cada artista tentar encontrar a sua “voz” dentro da música de Cazuza mas principalmente pela montagem paralela que intercala esses artistas permitindo um mosaico mais abrangente e múltiplo da obra do cantor.


O filme tem um aspecto de resgate não só da memória cultural e artística do país através de uma figura de extrema importância mas também de resgate afetivo daqueles jovens procurando reconhecer suas lembranças da figura do cantor e o primeiro contato com a sua obra. O Filme tem esse viés de resgate , de tributo , de uma homenagem mas por outro lado também tem outras vertentes como apresentar outras facetas desconhecidas da obra de cazuza mas também um projeto ousado de expressão artística genuína e performática assim como redescobre canções do cantor com novas versões tais como “Gatinha de Rua,”Mais Feliz” e “Amor, Amor” por exemplo. Também é um projeto de multi plataforma engrandecedor que rendeu show e cd além do documentário.

A presença de Cazuza ecoa durante todo o documentário. Ele não está ali de corpo presente mas, a força de suas músicas é o que da vigor ao documentário e enaltece a grandeza do projeto encabeçado pela Jornalista Lorena Calabria e do DJ Zé Pedro.



Considero “Agenor- Canções de Cazuza” um excelente documentário por ser ousado e experimental mas, principalmente por prestar ao mesmo tempo um tributo ao um grande artista que merece todas as homenagens como apresentar outras facetas de sua obra.       



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ronnie Von- Quando Éramos Príncipes


Ronnie Von é um artista que sempre andou na contramão. Essa é a mensagem que o Documentário “Ronnie Von- Quando Éramos Príncipes”  passa ao espectador. Um artista transgressor, ousado e principalmente vanguardista porém muito incompreendido.


O filme dirigido por Caco Souza remonta a carreira de Ronnie com uma atenção especial a sua fase psicodélica representada por uma trilogia de álbuns que tem ganhado o status de Cult com passar dos anos. Pautado em uma dinâmica interessante de entrevistas, fotos e vídeos de arquivo e performances musicais de Ronnie acompanhado pela banda “Os "Haxixins”. O filme possui uma dinâmica e estética muito particular e ai que mora a sua beleza.

Intercalando entre essas três vertentes (depoimentos, arquivo e performances musicais) o documentário reconstrói a carreira artística de seu biografado. Dessa maneira reforça a ousadia do cantor, seu pioneirismo em frente ao popular meloso da época da Jovem Guarda ao mesmo tempo desfazendo estigmas como a alcunha pela qual se tornou famoso “O Príncipe”. Essa ousadia é ressaltada pelo diretor de uma maneira muito sutil e recheado de muita música é claro.

O aspecto musical de grande relevância no documentário tem um viés de resgate. Resgate de uma carreira , de uma época de um artista que cavava um espaço a duras penas mas que vencia mesmo sendo alvo de preconceito pela sua origem burguesa , pela proposta musical que não se encaixava(era influenciado pelos Beatles em uma época de modismo exagerado). Ao mesmo tempo em que a música ilustra os depoimentos(aliás ela permeia todo o documentário como pano de fundo, uma ótima sacada) ela também  serve como uma maneira de o cantor resgatar sua carreira através das performances musicais do cantor acompanhado pela banda Os Haxixes.

O diretor Caco Souza soube orquestrar através de um excelente trabalho de montagem todas as fases de Ronnie em uma linha artística não cronológica. Ali é possível constatar através do farto material de arquivo e de depoimentos do próprio Ronnie e de artistas de calibre como Rita Lee e Arnaldo Saccomani a evolução e o sangue novo que o trabalho do cantor sempre tiveram. Fato que o levou a experimentar outros caminhos como a aproximação com o Tropicalismo e a disputa  entre Ronnie e a Jovem Guarda que se punham em lados opostos não só na televisão com programas concorrentes mas de estilo mesmo. O documentário é bem sucedido em demonstrar essa evolução de forma clara e sutil apoiando se principalmente no aspecto musical que ecoa no documentário e com suportes de riquíssimo valor- Os Depoimentos.

O filme não tem uma pegada saudosista de maneira nenhuma. Mas ai você me pergunta: “Ué mas ele não está revisitando a obra?” Sim ele está revisitando mas agora a sua obra possui outro valor e ele está revisitando com outro olhar. No fundo o documentário te convida a embarcar numa viagem psicodélica pela carreira do Príncipe.

“Quando Éramos Príncipes” é um filme honesto e sincero a altura da grandiosidade de Ronnie Von”