segunda-feira, 31 de março de 2014

Tudo por Justiça



“Tudo por Justiça” bem que poderia se chamar “Alta Tensão” , tamanho o nível de dramaticidade que o filme possui e provoca esse sentimento a flor da pele do espectador.


“Tudo por Justiça” aborda a relação entre os irmãos Russel(Christian Bale) e Rodney(Cassey Affleck). O primeiro, seguindo a trajetória do pai doente é um trabalhador braçal em uma siderúrgica. O Segundo é um jovem problemático que é um lutador ferroz das rinhas ilegais. Mas quando tudo parece estar perdido e os irmãos só tem a eles mesmos, Russel desenvolve seu próprio censo de justiça.


Em primeiro lugar, “Tudo por Justiça” é um daqueles filmes que deixam o espectador inerte, pelo fato de que além da tensão ser elevada ao limite a todo o momento provocando o espectador, o elemento surpresa torna tudo mais imprevisível. 


O diretor Scott Cooper ciente do alto nível de tensão que o enredo possui , se preocupa em canalizar esta força sobre-humana que paira sobre o longa, construindo uma atmosfera fílmica que deixa sempre espaço para o descontrole, para o embate.
O próprio prólogo do longa é um exemplo da violência que esta por vir. Cooper situa esses personagens em um ambiente hostil, colocando-os em posição de explodir a todo e qualquer momento.

Cooper incita o público , ao mesmo tempo que os personagens são incitados a usar de força bruta(de modo que se você tiver coração fraco, este não é um filme que eu recomendaria). Dotado de extrema inteligência e destreza fílmica, o diretor provoca a ação , a explora e depois a corta pela metade em um hábil uso das elipses e do corte seco , só pra depois voltar a explora-la com a devida tensidade dramática.

Sempre com sua câmera a espreita a espera de captar reações de seus atores, Scott Cooper é provocador ao mesmo tempo em que se revela um excelente diretor de atores. Se de um lado ele investe nos closes, no jogo de câmera e no corte seco para incitar a tensão , ele ainda conduz os atores a um trabalho corporal em busca da sua brutalidade.

E você pensa que Cooper se deu por satisfeito com o ALTO nível de tensão dramática e a raiva saindo pelos poros? Não. Ele ainda converte todos os outros elementos, principalmente o espaço fílmico como forma de aumentar ainda mais o nível de dramaticidade.

Utilizando-se de força bruta e intelectual, o diretor molda seu filme como um filme muito masculino e viril. Os próprios universos, espaço e personagens tem essa masculinidade aflorada ou ela esta a espreita de aflorar.

O trabalho de conversão dos elementos fílmicos feito pelo diretor torna “Tudo por Justiça” um filme muito sensorial , no sentido de que a atmosfera e principalmente a música carregam a tensão dramática.


Dotado de um trabalho de edição primoroso, o filme usa da montagem para evidenciar a ligação e as diferenças entre Russel (Christian Bale) e Rodney(Casey Affleck). Através da montagem paralela, o diretor ilustra as personalidades distintas dos dois irmãos bem como a ligação emocional que eles carregam. Usando do jogo de trucagens, o diretor brinca com os momentos tensos de cada um, deixando o espectador sem fôlego.


A Música tem alto poder dramático nesse filme, carregando a tensão eminente, ela age de forma sensorial, através de uma trilha instrumental que potencializa a dramaticidade fílmica e tem seu ápice na canção “Release” da banda Pearl Jam que abre e fecha o filme.



Christian Bale e Casey Affleck estão estupendos- pra dizer o mínimo em suas interpretações como os irmãos Russel e Rodney. A forma como expressam as nuances cheia de fúria de seus papeis, não só interpretando mas sim VIVENCIANDO isso a flor da pele é absolutamente sensacional. Os atores carregam as emoções esboçam a carga dramática capaz de deixar o espectador estarrecido. Se Affleck surpreende pela vivacidade de seu papel desde o inicio, Bale, em uma performance absolutamente memorável , o responsável por deixar o espectador vidrado e de coração na boca pela brilhante forma que realiza a curva dramática de Russel.


Eu não esperava muito de “Tudo por Justiça”. Ledo engano, trata-se de um drama forte, emocionante, violento, sanguinário e muito masculino, de modo que você precisa ter sangue no olho pra assistir.












domingo, 30 de março de 2014

Análise Visual: O Cozinheiro , o Ladrão, sua Mulher e o Amante


O filme “O cozinheiro , O Ladrão , Sua Mulher e o Amante” de Peter Greenaway , não é um dos filmes mais fáceis de se assistir, entretanto, o espectador é brindando com três aspectos excelentes(Uma direção excelente,atuações devidamente teatrais e uma rica direção de arte). Munido de um excelente trabalho de composição é na direção de arte que se encontra a força narrativa do longa e é ela que evidencia através de mudanças drásticas no aparato visual do filme(que aliás não se restringe apenas aos objetos de cena mas ao uso de cores e a vestimenta dos atores) As mudanças de cores evidenciam a curva da tensão dramática , podemos reparar pelo uso de cores vivas , fortes e vibrantes que o diretor escolheu como uma forma de usar metáforas e simbologias através do uso da cor não só para reforçar a tensão dramática e dar força e energia as cenas de forma a aumentar a tensão iminente e não permitir que o filme caia no lugar comum de forma que não soe repetitivo. “O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante” é um excelente exemplo de que construção fílmica se da pela união e harmonia de todos os elementos presentes e nisso , o filme de Peter Greenaway.


Abaixo 5 cenas de belíssima união plástica e narrativa. 


1-5:15 a 6:31: ambiente nada sofisticado, representa visualmente a pobreza daqueles que ali trabalham de forma exaustiva, aparentemente sendo massacrados pelo Sr Albert Spica, a Criança na cena simboliza a miséria e o alto fardo de trabalho. O fato dela cantar , representa sua esperança.
A cor na cena predominante é um verde musgo e muito mal aparado. Os próprios objetos de cena, como utensílios de segunda mão são reluzentes naquele ambiente pobre,é uma das poucas coisas que dão vida a cena(embora aja ausência de cor) refletindo as péssimas condições de trabalho. O único componente vivo da cena é a cortina da cor verde que representa o espetáculo promovido pelo Sr com sua chegada, demonstrando temor e hierarquia.


 2-A conversa de Albert  com o chef de cozinha Richard se passa em dois ambientes onde o verde musgo também predomina , embora aqui já aja maior presença da cor e uma cortina branca que serve para dar um equilíbrio á tensão dramática que predomina na cena. Esse equilíbrio ocorre porque o chef tem a ousadia de não se rebaixar a figura de dominância do Sr. Spica.










3-
8:02 a 9:48 acontece um apagão devido a megalomania do Senhor Spica de trazer um letreiro colorido ao restaurante. Neste momento há uma ausência quase que total de cor mas ao contrário da segunda cena há os figurinos vivos , e velas que ajudam a dar um pouco de vida ao ambiente.



4- 9:49 a 10:33 A luz volta e com ela toda a preparação para o jantar de Albert Spica. Há um requinte na construção dos mínimos detalhes da cena, Velas, talheres, utensílios caros, representado por um vermelho vivo. A cena simboliza dois pontos importantes: A grandeza social do senhor Spica(que condiz com a sua prepotência, com a qual maltrata a mulher Georgina) e retrata o embate entre Sr. Spica e o chef Richard que ousa a criticar a postura arrogante do patrão incomodado com o tratamento que ele da a sua mulher. 














5-10:35 a 13: retoma a situação do homem agredido por Albert  Spica , mas dessa vez há uma maior luminosidade na cena e ela é bem reveladora , no sentido que a câmera do diretor nos permite observar outras pessoas na mesma cena como uma açogueira , um chef e o jovem menino que volta a pedir paz. Predomina cores fortes e bem vivas como o verde reluzente e o vermelho sangue.


domingo, 23 de março de 2014

Não Estou Lá



Encantado. Essa é a melhor definição que eu consigo encontrar pra traduzir a minha reação ao drama biográfico “Não Estou Lá”.


Dirigido por Todd Haynes, o filme dramatiza diversas fases da vida do ídolo folk Bob Dylan. De beleza estética impressionante e uma história riquíssima , o filme consegue ir muito além de uma mera biografia.

O  filme é um exímio exercício de construção de um universo fílmico múltiplo e ainda complementar no qual, na conjunção desses universos formam-se um retrato da persona de seu biografado Bob Dylan. Utilizando uma poética encantadora , o filme consegue desmistificar e conquistar o espectador com as mais variadas vertentes do cantor Folk. Nesse ponto, merecem honrarias os roteiristas Todd Haynes e Oren Moverman por conseguir costurar múltiplos enredos e mais do que lhe garantir a simetria devida fazendo com que todos os plots se unem se tornando uma só narrativa. Embora eles demorem um pouco para unificar esse enredo múltiplo, mas quando o fazem , realizam esse feito com maestria.


Um enredo tão grandioso como esse cabe performances memoráveis. Mas o que se encontra neste glorioso longa é um exercício performático de primeira grandeza no qual 6 atores(Marcus Carl Franklin, Ben Whishaw, Christian Bale, Heath Ledger, Cate Blanchett e Richard Gere.)  Esses atores realizam um exercício performático de retorno a teatralidade carregando as devidas nuances de seus “Personagens” que na realidade são tudo a faceta de uma só pessoa: Bob Dylan.

Todos os atores que interpretam o astro merecem honrarias pelo minucioso trabalho de composição de personagem, sobretudo porque o roteiro e a montagem tem idas e vindas constantes no tempo fílmico , o que faz que os atores revivam a “sua fase” do personagem constantemente durante todo o filme.

“Eu Não Estou Lá” é um filme de conversão. Conversão no sentido de que a estrutura narrativa do filme é mutável quanto as fases que o longa aborda. Podendo ser um Road Movie como a faceta de Dylan defendida por Richard Gere como “Billy The Kid” , se convertendo não só num Road Movie mas assumindo todas as características de autentico faroeste. Ou então, o filme pode assumir uma faceta documental como na fase defendida por Cate Blanchett que dá vida a fase mais excêntrica do cantor como “ Jude Quinn” ou ainda em um filme metalinguístico como Robbie Clark um ator, personagem esse defendido brilhantemente por Heath Ledger que entrega uma interpretação fascinante e deveras difícil considerando que interpreta uma versão de Dylan dentro de um filme onde o personagem interpreta outra versão do cantor em um filme fictício. De perder o fôlego não?


A música de Bob Dylan da o tom a narrativa, tornando-a uma narrativa intimista que através das canções transbordam lirismo e poética , garantindo assim um aspecto transcendental ao longa, mantendo o espectador inerte aquela magia exercida sobre a tela.

A belíssima fotografia de Edward Lanchman também é peça fundamental no efeito inebriante que o filme causa no espectador. De natureza múltipla, a  fotografia se adéqua as diferentes fases, passando do granulado da primeira fase ao contraluz e a belíssima fotografia nas fases defendidas por Christian Bale e Cate Blanchett respectivamente.


“Eu Não Estou Lá” é um grande filme, exímio em concepção e realização cinematográfica, o longa consegue ser altamente multifacetado em sua estrutura transbordando magia, poesia e encantamento , tudo para homenagear as diferentes fases de um artista tão multifacetado quanto Bob Dylan.



  


sábado, 22 de março de 2014

Os Famosos e os Duendes da Morte



A adolescência é um período de transformações , de se encontrar a sua própria individualidade mas também pode ser muito solitária. É sobre esse doloroso rito de passagem vivido por muitos- e eu falo por experiência própria que trata “Os Famosos e os Duendes da Morte”.


Dirigido por Esmir Filho baseado no livro de Ismael Caneppele(que co-assina o roteiro e faz uma participação no longa). O Longa trata do Menino sem Nome que se auto intitula Mr Tamborine Man( em homenagem ao seu ídolo Bob Dylan.


“Os Famosos e os Duendes da Morte” é um filme de contemplação. O diretor com sua narrativa intimista nos convida a penetrar na mente do Menino sem Nome(Henrique Larré) e conhecer seu universo particular, seu mundinho, vulgo seu quarto e sua mente onde quiser.

O longa tem uma poética muito particular , possuindo força no aspecto psicológico e intimista dos anseios do jovem protagonista. Não por acaso, o filme possuiu uma estética onírica , de contemplação do sonho (nos quais o diretor Esmir Filho faz um excelente trabalho de construção e condução desse universo paralelo do protagonista , servindo como uma metáfora para os seus medos e anseios).

Dessa forma , o filme faz o processo inverso , de dentro pra fora. A maior parte da ação dramática ocorre dentro da cabeça do Tambourine Man e se tornando um filme muito mais introspectivo e onírico a medida que avança com um fluxo de consciência que faz que o universo particular do jovem( seu quarto, seu blog, seu computador suas músicas) tome forma visual e “salte” da sua mente.

A narrativa tendo esse lado introspectivo e poético muito forte, cabe a Esmir Filho manter a sua câmera a espreita apenas contemplando , registrando e traduzindo em imagens a força dos pensamentos do protagonista. para isso investe em poucos movimentos de câmera como closes e planos detalhe.

O Roteiro escrito a quatro mãos pelo autor do livro Ismael Caneppele e pelo diretor Esmir Filho é dotado de uma poética que impressiona pela extrema sensibilidade que constroem o universo particular do protagonista conseguindo traduzir em imagens seus medos, anseios e principalmente o sentimento de estar perdido do protagonista(Henrique Larré). 
Mas os méritos do roteiro não param por ai, não posso deixar de citar a brilhante forma com que usam a mente do protagonista e sua visão interna para expor seus sentimentos(contando com o incrível talento de Larré capaz de atuar por gestos e poucas falas). Fora isso é admirável a destreza dos roteiristas por unir e transpor os universos onírico e real numa simetria perfeita além de usar metáforas e principalmente fazer um retrato real do jovem contemporâneo.



Henrique Larré arremata o filme como o “Menino sem Nome” ou “Mr Tambourine Man”. Larré é o destaque supremo do longa tendo em vista que a narrativa é construída toda em cima de seu personagem e o ator não decepciona sendo completamente entregue ao seu personagem de forma sutil mas visceral.

Samuel Reginatto e Ismael Canappele se destacam de maneira marcante no longa. Reginatto é Diogo o único amigo do protagonista com o qual ele pode partilhar seus anseios a respeito do futuro. O ator imprime um humor mordaz em seu personagem bem próprio da juventude e interpreta seu papel com veracidade esbanjando ótima química com Henrique Larré.

Ismael Caneppele tem uma atuação decisiva para o desenrolar da narrativa do longa interpretando Julian um personagem singular, uma incógnita que a meu ver seria uma representação da figura paterna para o menino, embora o filme não deixe isso claro.


A trilha sonora é um show á parte recheada de hinos da música folk como a faixa titulo de Bob Dylan “Mr Tambourine” conta com canções do cantor  Nelo Johann.  A trilha de certa forma sintetiza a  introspecção e o universo particular do protagonista bem como seus medos e anseios.


É difícil traduzir o efeito de “Os Famosos e os Duendes da Morte” em quem assiste. Só posso enaltecer a delicadeza , a poesia e a magia que o filme transmite. É um filme feito com o coração como poucos hoje em dia, e pensar que perdi a palestra do Caneppele na minha faculdade. Mas uma coisa é certa: estou com vontade de ler o livro e rever o filme muitas vezes ainda. Já vai pro top 10 de filmes da vida.


  


quarta-feira, 12 de março de 2014

domingo, 9 de março de 2014

Walt nos Bastidores de Mary Poppins


O musical “Mary Poppins 1964 um dos maiores e mais encantadores clássicos da Disney. Entretanto, foi uma batalha para o visionário Walt Disney convencer P.L Travers a autora dos livros a liberar os direitos para a realização da obra. Essa batalha de visionários a cerca dos bastidores desse clássico atemporal que é “Mary Popins” é o tema de “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”


Poucas vezes um filme me tocou tanto nos últimos tempos quanto esse encantador “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” que literalmente convida o espectador a sonhar. Com uma riqueza de detalhes no aparato visual e uma maneira sensível de dirigir, o diretor John Lee Hancock torna esse filme um espetáculo delicioso e encantador.

Dotado de uma extrema sensibilidade, Hancock converte “Walt” em um espetáculo onírico, onde literalmente sonhamos acordados. Sua delicadeza é vista em cada frame, cada plano e seu filme foi concebido como literalmente um sonho e executado com exatidão. A capacidade de Hancock em unir todos esses elementos visuais e sonoros e dirigir as cenas exalando delicadeza e sensibilidade é de emocionar.

Com sutileza nos planos(para constratar com vivo e deliciosamente exagerado aparato visual que o filme carrega, Hancock é muito sutil ao dirigir, somente captando as emoções , com movimentos de câmera simples, apostando no jogo de câmera para captar  e extrair dos seus atores a emoção adequada.

O diretor é também hábil ao comandar os flashbacks imprimindo realismo neles. Captando a força visual e a emoção dos flashbacks bem como as interpretações genuínas de Annie Rose Buckley e Colin Farrel respectivamente.

Entretanto, o cineasta acaba prejudicado pela demora de encontrar a união dos flashbacks com a ação presente, uma falha de edição que prejudica o entendimento imediato do espectador mas não o filme felizmente. Encontrando o timming perfeito entre os tempos fílmicos , Conduz o filme com delicadeza e suavidade.

Com cortes sensíveis e seqüências ágeis, John Lee Hancock sabe explorar as cenas ao Maximo, priorizando seus atores com closes, e planos de conjunto, realizando uma primorosa direção de atores, favorecendo atuações magníficas de todo o seu elenco que exibe todo o seu potencial cênico ao compor personagens carregados com tintas fortes em um retorno interessante a teatralidade primitiva.

A musica exerce aqui dois papeis distintos mas igualmente importantes. Primeiro , a musica dietética , um instrumental maravilhoso nos remete ao estado onírico e de fantasia do filme. Segundo, a musica extra-diegetica retirada do musical "Mary Poppins" nos remete a teatralidade nos quais o diretor John Lee Hancock imprime toda uma direção de atores muito libertaria nos quais deixa seus atores livres para criar resultando em atuações formidáveis e números musicais ótimos.


Emma Thompson e Tom Hanks estão excelentes como Walt Disney e P.L Travers respectivamente. Abusando do modo teatral de interpretação que cabe muito bem em seus papeis com vários tons acima e meio over. Brilhantes.

B.J Novak e Jason Schwartzman estão ótimos os irmãos compositores Robert e Richard Sherman respectivamente. Se revelando atores completos, a dupla abusa de todo o seu talento para compor personagens encantadores.

Bradley Whitford é um show á parte como o co-roteirista Don. Suas  tentativas de criar o filme que sempre esbarram nas idéias fixas da autora(Emma Thompson) são geniais e cheias de química entre os atores, rendendo boas cenas.

Colin Farrel  interpreta Robert Golf de maneira apaixonante. O ator consegue imprimir as múltiplas nuances de seu personagem com exatidão. O pai amável e sonhador, porém problemático.

Annie Rose Buckley(Ginty, a P.L Travers criança) é encantadora, com uma atuação genuína, a jovem atriz emociona só com um simples olhar, sua  química com Colin Farrel é apaixonante.



    
‘Walt nos Bastidores de Mary Poppins” é um filme encantador. Onde quase tudo funciona perfeitamente. É um espetáculo mágico e metalinguístico de primeira grandeza, um verdadeiro convite para sonhar.


sábado, 1 de março de 2014

Trapaça


Iriving Rosenfield (Christian Bale) é um trapaceiro por natureza. Com pequenos negócios fraudulentos e no mercado de falsificações de arte. Tudo muda quando Irving e sua amante e parceira Sidney(Amy Adams) são recrutados pelo policial do FBI Richie DiMasso(Bladley Cooper) em uma operação que tem como objetivo prender políticos corruptos.


Depois  do “feel good movie” “O Lado Bom da Vida” David O. Russel da uma virada interessante em sua carreira com esse trilher com pitadas de comédia “Trapaça”.


“Trapaça” tem uma construção fílmica perfeita, com elaborada e cuidadosa reconstituição dos anos 70 e que garante um charme e elegância extra ao longa, além de contribuir para o clima de suspense do enredo. Dito isso, temos uma direção equilibrada de David O. Russel que sabe explorar com maestria os componentes e a construção estética do filme em sua totalidade.

Com sua direção ágil e delicada O. Russel comanda as cenas de forma harmônica explora os planos da melhor forma possível com um dinamismo impressionante que se encaixa perfeitamente com esse tom de suspense meio gangster que o filme possui. Russel é ágil, articulado , usa as trucagens com perfeição aliado a um excelente trabalho de montagem.

Tamanho dinamismo não se restringe a exploração total do plano mas também na forma com que Russel dirige seus atores. A forma ágil e enérgica que imprime aos planos é sensacional , isso sem contar a maneira fabulosa com que constitui o plano contra plano e o jogo de câmera. O uso dessa estética ágil e perspicaz que Russel imprimiu as determinadas cenas demonstra a genialidade e ousadia do cineasta ao dirigir em algo que me remeteu aos tempos áureos de Tarantino e Guy Ritchie em trabalhos como “Cães de Aluguel”, “Pulp Fiction” e “Jogos, Trapaças e dois canos fumegantes”.

Pensa que acabou? Não, até porque seria injusto deixar de citar a maneira sensacional com que David O. Russel evoca os flashbacks quando menos esperamos, sendo capaz de alterar o tempo fílmico num piscar de olhos.

Pra mim a música é 50% de um filme se não mais. Eu admiro a forma como alguns diretores fazem da trilha um elemento narrativo , tornando-o quase um personagem do enredo. Por isso, uma das coisas que mais me impressionou no trabalho do diretor foi a habilidade de David O. Russel em converter a música em um elemento narrativo e não puramente um adjetivo técnico foi maravilhosa . A maneira com que Russel manipulou  o som para que ele servisse ao propósito daquela cena. Às vezes se sobrepondo aos diálogos como um atropelo , outras vezes servindo como um pano de fundo mas nunca como um mero detalhe, e não poderia ser diferente quando se têm jazz e blues da melhor qualidade como trilha sonora.


É no roteiro escrito a 4 mãos por David O. Russel e Eric Warren Singer que “Trapaça” encontra o seu primeiro déficit. Um déficit temporal digamos assim. A alternativa de desconstruir o fluxo da narrativa e inverter a ordem do prólogo é brilhante, faltou apenas aos roteiristas o essencial: explicar isso ao espectador mas, logo depois o problema é corrigido e o roteiro de “Trapaça” segue um fluxo de agilidade impressionante carregado de grandes “pontos de virada”. Só é lamentável a longa duração do filme. Sério, o filme não precisava ter 2 horas, considerando que o filme é superlotado de “tempos mortos” na segunda metade ou no bom português Russel e Singer “enchem lingüiça” mesmo tudo pra resolver o filme nos cinco minutos finais e de forma apressada ainda por cima. Por quê?

Amy Adams(Sidney) e Christian Bale(Irving) demonstram química e impressionam pela maneira que encarnam ou melhor personificam seus personagens trabalhando as nuances com inteligência. Adams se sobressai ao imprimir uma sensualidade em sua Sidney. Ainda assim , Bale tem destaque pela composição e construção do personagem que personifica ou encarna, interpreta seria um termo muito simples para exemplificar a atuação do ator.

Bradley Cooper tem um outro grande personagem nas mãos dado por David O. Russel. Dessa vez, é um personagem de composição mais externa e visual e Cooper compõe e executa brilhantemente com suas diversas nuances, chegando a ofuscar o real protagonista(Bale)

Jennifer Lawrence(Rosalyn) tem uma atuação carregada nas tintas e meio “over” e afetada que combina perfeitamente com seu papel.  Lawrence trabalha dignamente , explorando bem todas as vertentes de seu papel. Ao passo que desta vez é merecedora do Oscar se vir a ganhar.


Tudo se encaixa quase que perfeitamente em “Trapaça” mas faltou aquele “plus” necessário a todo o filme. Fora o erro de desentendimento narrativo, faltou a “Trapaça” aquele “algo mais” talvez a sensibilidade que David O. Russel imprimiu em “O Lado Bom da Vida” mas “Trapaça” é bom filme apesar de seus pequenos percalços.