domingo, 23 de março de 2014

Não Estou Lá



Encantado. Essa é a melhor definição que eu consigo encontrar pra traduzir a minha reação ao drama biográfico “Não Estou Lá”.


Dirigido por Todd Haynes, o filme dramatiza diversas fases da vida do ídolo folk Bob Dylan. De beleza estética impressionante e uma história riquíssima , o filme consegue ir muito além de uma mera biografia.

O  filme é um exímio exercício de construção de um universo fílmico múltiplo e ainda complementar no qual, na conjunção desses universos formam-se um retrato da persona de seu biografado Bob Dylan. Utilizando uma poética encantadora , o filme consegue desmistificar e conquistar o espectador com as mais variadas vertentes do cantor Folk. Nesse ponto, merecem honrarias os roteiristas Todd Haynes e Oren Moverman por conseguir costurar múltiplos enredos e mais do que lhe garantir a simetria devida fazendo com que todos os plots se unem se tornando uma só narrativa. Embora eles demorem um pouco para unificar esse enredo múltiplo, mas quando o fazem , realizam esse feito com maestria.


Um enredo tão grandioso como esse cabe performances memoráveis. Mas o que se encontra neste glorioso longa é um exercício performático de primeira grandeza no qual 6 atores(Marcus Carl Franklin, Ben Whishaw, Christian Bale, Heath Ledger, Cate Blanchett e Richard Gere.)  Esses atores realizam um exercício performático de retorno a teatralidade carregando as devidas nuances de seus “Personagens” que na realidade são tudo a faceta de uma só pessoa: Bob Dylan.

Todos os atores que interpretam o astro merecem honrarias pelo minucioso trabalho de composição de personagem, sobretudo porque o roteiro e a montagem tem idas e vindas constantes no tempo fílmico , o que faz que os atores revivam a “sua fase” do personagem constantemente durante todo o filme.

“Eu Não Estou Lá” é um filme de conversão. Conversão no sentido de que a estrutura narrativa do filme é mutável quanto as fases que o longa aborda. Podendo ser um Road Movie como a faceta de Dylan defendida por Richard Gere como “Billy The Kid” , se convertendo não só num Road Movie mas assumindo todas as características de autentico faroeste. Ou então, o filme pode assumir uma faceta documental como na fase defendida por Cate Blanchett que dá vida a fase mais excêntrica do cantor como “ Jude Quinn” ou ainda em um filme metalinguístico como Robbie Clark um ator, personagem esse defendido brilhantemente por Heath Ledger que entrega uma interpretação fascinante e deveras difícil considerando que interpreta uma versão de Dylan dentro de um filme onde o personagem interpreta outra versão do cantor em um filme fictício. De perder o fôlego não?


A música de Bob Dylan da o tom a narrativa, tornando-a uma narrativa intimista que através das canções transbordam lirismo e poética , garantindo assim um aspecto transcendental ao longa, mantendo o espectador inerte aquela magia exercida sobre a tela.

A belíssima fotografia de Edward Lanchman também é peça fundamental no efeito inebriante que o filme causa no espectador. De natureza múltipla, a  fotografia se adéqua as diferentes fases, passando do granulado da primeira fase ao contraluz e a belíssima fotografia nas fases defendidas por Christian Bale e Cate Blanchett respectivamente.


“Eu Não Estou Lá” é um grande filme, exímio em concepção e realização cinematográfica, o longa consegue ser altamente multifacetado em sua estrutura transbordando magia, poesia e encantamento , tudo para homenagear as diferentes fases de um artista tão multifacetado quanto Bob Dylan.



  


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