sábado, 19 de julho de 2014

Festim Diabólico

*Contêm informações do enredo, só leia após assistir ao filme.



Desde a primeira vez que ouvi falar da trama da novela “O Rebu”, muito antes da Globo anunciar a nova versão da novela no ar atualmente, fiquei encantado pela narrativa não-linear que se passa em um único dia e rapidamente associei a este clássico de Alfred Hitchcock “Festim Diabólico”.

Embora aqui não haja o recurso do flashback presente na nova versão da novela de Bráulio Pedroso, temos temáticas narrativas semelhantes.

O filme se concentra na história de dois amigos, Brandon(John Dali) e Philip(Farley Granger) que assassinam um antigo colega de classe e dão uma festa aos amigos e familiares do falecido.

Duas coisas chamam a atenção primeiramente em “Festim Diabólico”. Primeiro é a habilidade dos roteiristas Hume Cronyn e Arthur Laurents tiveram em construir uma narrativa pautada em atos assim como a história original na qual o filme é baseada. Cronyn e Laurents construíram a ação em três tempos narrativos: O antes da festa- na qual eles cometem o assassinato, o durante a festa, que ocupa o maior tempo do filme e o depois da festa. Isso tudo sem utilizar flashbacks em nenhum momento. Roteiristas gênios e Hitchcock gênio.

Aliás, é preciso reverenciar o exultante trabalho do diretor, não é a toa que ele era conhecido como “ o mestre do suspense”. Hithcook trabalhou o suspense apostando nos closes e planos descritivos para fortalecer a tensão dramática do enredo. De fato, o cineasta demonstrou incrível destreza e inteligência cênica ao costurar o suspense da narrativa pautando-se por recursos mais simples e orgânicos como closes, movimentos de câmera como a panorâmica, além é claro, do uso potente do jogo de câmera e do uso da música instrumental tocada pelo personagem Philip( Farley Granger) em um diálogo especifico com o Sr Cadell (James Stewart) no qual o professor sonda o antigo aluno sobre o seu “brilhante feito”. Nessa cena em especifico, a música tocada por Philip ao piano eleva a tensão dramática do longa a níveis inimagináveis.

Alfred Hitchcock era mesmo um diretor com o domínio cênico. A maneira brilhante com a qual ele induz o telespectador nesse grande “jogo psicológico” que é festim diabólico – fonte que claramente beberam George Moura e Sérgio Goldenberg , autores dessa nova versão de “O Rebu”, além é claro de Bráulio Pedroso autor da novela original. Pois, a construção da tensão dramática da narrativa é alta e de semelhante efeito em ambos os casos.

A interessante observar alguns pontos no filme. Primeiro que a narrativa se desenvolve em um único ambiente e a direção de Hitchcock imprime o suspense inerte a narrativa sem entretanto torna-la engessada. Sua direção explora muito bem o ambiente cênico , reforçando o clima noir do enredo. Em segundo lugar, a inteligência do diretor em utilizar simbolismos e dar pistas ao espectador. Um exemplo disso, é o fato de Brandon(John Dali) amarrar os livros com a mesma corda que usou pra enforcar David, ou quando a câmera faz o caminho inverso e através de uma panorâmica vai da mesa de jantar(onde David- o morto está deitado no caixão) para a mão de Brandon.

Outros dois pontos importantes que pude perceber e faço questão de ressaltar. Primeiro, a destreza da construção narrativa da dupla de roteiristas que a todo o momento colocam os personagens principais em situação-limite de serem descobertos, propondo assim um jogo com o espectador e elevando ainda mais a tensão dramática. Segundo, a construção tanto dos dois protagonistas Brandon(John Dali) e Philip(Farley Granger) quanto do professor Cadell(James Stewart).

Brandon e Philip são dois personagens completamente antagônicos. Enquanto Brandon é intelectualmente forte e dominador, envolvendo seu amigo nessa “teia psicológica”, Philip é o elo mais fraco entre os dois, medroso e suscetível a pressões , estando ao passo de se entregar em vários momentos do filme.

Os atores compõe seus personagens de forma excelente , resultando em interpretações puramente naturalistas.

Sr. Cadell(James Stewart) representa a força maior nesse jogo psicológico, aquele ao qual Brandon e Philip buscam impressionar com o seu “grande feito”. Stewart interpreta o inteligente professor de maneira astuta, ressaltando a magnitude e a força e influencia dominante que o personagem exerce sobre o psicológico de Brandon e Philip.

“O Festim Diabólico”continua um clássico irreparável. Uma verdadeira aula de direção, execução e construção de uma narrativa. A destreza com o qual o filme toma forma impressiona e torna este clássico do mestre do suspense continuamente servindo de fonte de inspiração para diretores e roteiristas até hoje , mesmo estando em tempos que quaisquer ousadia narrativa já é um grande avanço, tamanha a falta de criatividade que assola os diretores e roteiristas atuais.




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